Cinco da manhã novamente e agora está claro para mim que troquei a meditação por "escrevinhação".
Meu professor de vedanta fala que nem sempre a meditação é para a gente ou para aquele momento da gente e, talvez eu esteja nesse momento de precisar falar e não silenciar.
Tem um volume imenso de emoções e energias estranhas andando por dentro do meu corpo. talvez o fato de estar no segundo dia de menstruação e ter um utero triste enlutado, também ajude a bagunçar um pouco mais as coisas aqui dentro.
Sempre pensei demais. A vida toda. Desde que me conheço por gente. Sempre precisei de respostas, de racionalização e fatos para compor meus dias e me vejo sem possibilidade alguma de agarrar a logica e razão desses sentimentos todos.
O engraçado, para não dizer irônico, é que o fato da morte da Boolie acordou muito mais do que uma tristesa pela não presença dela nos meus dias. Me tirou alguns véus de ilusões e está, talvez pela fragilidade emocional que me encontro hoje, me mostrando alguns aspectos importantes, densos e críticos que preciso olhar.
É como se o torpor do corpo cansado de chorar me revelasse alguns segredos. Não sei lidar
Observo a Pepa brincando com um bichinho no quarto e chega a Mini para encher o saco dela com toda a sua energia infantil...penso em levantar e dar bronca mas me falta vontade...Sigo escrevendo.
Ontem eu costurei, pintei, cozinhei, limpei e fiz o dia ser a coisa mais longa e atarefada da minha vida, Olhei a roupinha da Boo no armário, abracei e chorei. Não havia mais nada para se fazer... Foi um daqueles momentos nada mais raros de choro automático... Vou aceitar esta oferta emocional e não resistir ou tentar entender padrões.
Hoje a grande tarefa do dia será me comunicar com o mundo com se tudo estivesse bem, arrumar alguma coisa extremamente importante para fazer na hora do almoço que me impeça de me reunir com os colegas e voltar o mais rápido possível para casa. talvez chorar mais um pouco, não entender alguma coisa e depois aceitar e seguir a vida.
Ontem fui dormir com raiva. Raiva de mim, da minha infantilidade e despreparo emocional para questões simples. Acordei me achando inadequada, fora da minha geração e imatura. Novamente aquela infinita sensação de virgula me invadiu e está me conduzindo ao meu limbo pessoal, meu castelo fechado cheio de muros e grades... Não quero ir para lá... Quero ter a raiva, sentir cada parte do meu corpo se revoltar e depois ficar triste mas não quero entrar no castelo.
Talvez seja o momento que me faz pensar em ser diferente quando me sinto parada no tempo da minha dor enquanto a vida ao redor flui normalmente.
Impossível não pensar em como não vivi isso quando meus pais morreram e quanta coisa emocionalmente importante eu perdi quando ignorei o luto por anos e anos... Não me culpo pois entendo que era o que eu podia fazer naqueles dias mas entendo muito bem as marcas que a ausência desta vivencia deixou e compreendo cada vez mais o que me tornei. Tirando as emoções doidas, quando respiro e olho de longe para tudo isso sinto respeito por mim.
Acho que um respeito nunca antes sentido pois entendo a importância das emoções e de senti-las. Ainda que doa demais e me faça perder o sono e a vontade de fazer coisas simples como comer, me maquiar, falar, isso é rico e faz parte da cura interior que preciso passar.
Me sinto agora, nesse exato momento, entregue. Confusa, cega e inapta para passar de fase mas tenho que ir. Só consigo pensar no Hubert e no Tori...e em tudo que temos que conversar quando essa viagem chegar ao fim,