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Boolie Boolie



Ok, são cinco da manhã e acho que preciso escrever.

Pensei que me daria bem com podcasts sobre meus pensamentos confusos e complexos mas acaba por ficar claro dentro de mim que a escrita é mais segura, fiel e transparente.

Talvez até, nesse período de luto que vivo eu não medite as cinco da manhã mas escreva tudo o que sinto por aqui. Para entender, absorver e dividir um pouco dessa dor desconhecida não pela sua novidade mas pela sinceridade em vive-la que hoje, me propus a sentir.

Sempre, desde que comecei a perder meus familiares, penso na morte como uma passagem, as vezes eu a personifico de acordo com os conhecimentos xamanicos que adquiri e penso nela como uma companheira que desde o ato do nascimento te guia e quando chega a hora te toca. E quando toca é implacável pois você vai com ela.

Irresistível, certeira, mágica. Cada um de nós tem um aspecto seu como companheiro pessoal ao longo da nossa existência. Penso que a morte tocou a Boolie e ela partiu.

Eu, no alto do meu conhecimento e entendimento místico/espiritual, respeito sua partida. Entendo que todos nós temos um corpo que se decompõem ao logo do tempo, desde o nosso nascimento esse corpo se desenvolve, chega ao ápice e se desdobra em pequenos e lentos desgastes que por fim, nos libertam para uma nova existência, uma nova vida em outro plano onde não existem dores, frios, fomes e nem tristezas... desde que a gente tenha feito direitinho nossa tarefa nesse plano, claro.

Boolie era mágica. Definitivamente uma gata de bruxa. Brava, doce e suave, pretinha como a noite, pequena como um cupcake e fiel até a morte. Com toda sua independência felina, ficou 13 anos comigo e partiu essa semana para viver com os seus. Onde quer que ela esteja, deve estar havendo festas de boas vindas pois todos os seres são bem vindos lá, quando a batalha travada aqui termina.

Mas eu fiquei. E isso dói. Talvez essa ruptura do material que se dá quando partem seja a parte menos trabalhada pelo RH da morte. A gente fica com as lembranças físicas, cotidianas, ficamos com a casa e tudo aquilo que tem de representação da vida que se foi.

Para ela, lá no novo plano tudo é colorido e novo, mas aqui as cores sumiram, o sol se pôs e ficam as emoções orbitando incontrolavelmente dentro da gente.

Eu chego na esquina da rua de casa e começo a soluçar. Subindo as escadas do prédio eu tenho que parar pois perco as forças de tanto chorar. Quando viro a chave e me tranco para dentro, é como se o universo inteiro e todas as lutas, conquistas e aprendizados perdessem o sentido e importância. Fica apenas a dor de não te-la aqui.

E o mais esquisito de toda essa tragedia é que é lindo viver essa partida. É poética e redentora essa tristeza paralisante, essa saudade que faz com que a gente perca habilidades sociais, a lágrima que depois do corpo cansar de tanto sofrer cai lenta e interrupta.

Nunca vivi um luto da forma correta. Nunca deu tempo e hoje chegou essa oportunidade. Chego a pensar que até nisso, a Boolie foi a melhor pois além de 13 divertidos e parceiros anos de convivência, na morte, ela me inspira a finalmente deixar um ente querido partir de maneira real, natural e saudável.

A impressão que dá é que talvez eu nunca mais pare de chorar, talvez eu tenha que viver arrumando coisas para fazer longe de casa para ficar menos tempo envolvida em lembranças e talvez a impressão de que o sentido da vida ficou meio borrado seja uma constante.

É... claramente percebo que preciso escrever por aqui. Independente de leitores ou qualidade de texto, preciso organizar essas ideias...

Primeiro final de semana sem minha pretinha. Ontem, sexta feira 13 eu nem postei nada sobre gatos pretos. Olhando agora, minha sala, ela esta na memoria de portas, estantes, paredes, prateleiras. É esquisito estar na casa dela mas sem ela e saber que ela fisicamente não vai voltar.

Talvez você ache que estou reagindo de forma exacerbada mas não. É como sinto. Amo os animais e ela por 13 anos foi minha família. Moro em uma cidade estranha,meu familiar amigo mais próximo esta a mais de 300km de distancia e minha casa sempre foi o melhor lugar para se estar por que tinha ela.

Agora ela foi para o céu dos gatos e eu fiquei com a imensa tarefa de resignificar tudo aqui e seguir. Hoje eu tenho essa clareza e por isso sofro. Penso nas perdas anteriores que não entendia e não consegui fazer essa troca de chave emocional... E quando me dou conta disso e nas implicações que respigam até hoje na minha vida penso como é rico e terrível esse momento necessário de viver.

Obrigada Boo Boo, por ser apenas uma gata preta que,na sua simplicidade felina, sempre me ajuda a ser uma pessoa sã e melhor. Neste ou em qualquer plano que esteja


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