Há dias estou com uma poesia na cabeça. Dessas que a gente cria a partir de alguns olhares sobre a vida.
Sempre que volto para casa, depois do trabalho e da academia, eu opto por uma estrada mais calma, com uma paisagem mais tranquila, onde sigo a direita nos meus 80km/h justamente para pensar na vida.
Foi num desses pensares solitário no início da noite que me vieram questionamentos sobre mim e minha relação com o mundo num contexto geral: pessoas, lugares, historias e como todos estes aspectos se fundem e me tornam viva.
Aí me dei conta de várias coisas de alma e me percebi poeta. Sim, me percebi com alma de poeta, daqueles bem sensíveis e atentos às questões de dentro, que platonizam, observam e não tocam. Apenas veem, interpretam e transbordam no papel suas visões.
Me dei conta de que alma de poeta é uma alma que absorve, olha profundamente, estuda, se encanta e se espanta mas não toca. Vive dentro do seu mundo inserindo cada vez mais o mundo dos outros no seu contexto sem necessariamente fazer parte dele.
Alma de poeta me pareceu doce, profunda e solitária.
Como haviam muitos quilômetros para percorrer pensei na alma de musico, pintor, escultor. A meu ver é parecida com a alma de poeta mas sem tanto platonismo. O musico sente tocando as pessoas, enquanto o poeta só observa e escreve.
Alma de músico me pareceu intensa, profunda e solitária
Aí pensei na alma de artista no sentido de ator/atriz. Me pareceu uma alma apaixonada, que se entrega sem viver o platonismo do poeta e tocando mais intensamente aquilo que deseja.
Alma de artista me pareceu desvairada, profunda e solitária.
Fiquei imaginando essas almas todas, como se tudo isto que eu conclui na minha viagem de volta para casa pudesse ser verdade.
E nessa fantasia louca me dei conta de que sou poeta demais para tantos artistas e musicos que tem passado na minha vida.
Preciso da minha doçura suave, da profundidade gutural e da solidão que deixa a gente pensar para dentro. Onde eu gosto de estar.