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Auto ajustes


Acordei relativamente cedo. Entendi finalmente que para não atrasar 20 minutos no trabalho preciso acordar uma hora antes. A graça disso tudo é que nessa hora nova eu acordo bem mais alerta, reduzindo a letargia matinal consideravelmente.

Ao que parecia uma mudança absurdamente grande, principalmente por se tratar de horas de sono a menos, acabou sendo melhor do que o modelo anterior. Sem querer, acreditando que seria a pior das decisões, acabei achando um ponto confortável de despertar e vir ao trabalho.

O mais interessante é que isto pode acontecer em vários outros aspectos da vida. Novo horário de acordar, nova casa, cidade, namorado, fé e por ai vai. As vezes o que parece prenuncio de desastre iminente, como acordar uma hora mais cedo, pode se tornar algo melhor em vários sentidos.

Acho que isto tem a ver com a questão de separar. É, bem isso mesmo: separar as coisas e as pessoas, dissociando as impressões e pré conceitos.

Convencionalmente, dormir uma hora a mais traria um ritmo melhor para meu dia, mas se eu sair do âmbito da convenção, como fiz, e testar um novo modelo, pode ser que aquele novo, que envolve menos horas de sono, garanta uma performance muito melhor durante minhas atividades diurnas.

A gente se preocupa muito em ouvir o outro, os outros, o que a grande maioria das pessoas faz, quer ou sente que nem paramos para prestar atenção se realmente aquilo ali, eleito pela maioria, nos serve de forma positiva.

É esquisito pensar que ainda hoje, com tantas coisas acontecendo por ai que nos impelem a olhar um pouco mais para dentro, insistimos em ignorar o fato e seguimos guiados pelo fluxo da maioria, do par, do conjunto, da sociedade.

O que eu digo não é de forma alguma apologia a um estado de anarquia e sim um despertar para as nossas reais potencialidades, vontades, limites e tudo aquilo que o coletivo não pode definir pois não calça nossos sapatos e não caminham nossas milhas. A nossa historia é somente nossa. Somos singulares.

Também não digo que o coletivo não tenha força ou razão mas a questão aqui é pensarmos até que ponto o coletivo tem sentido nas minhas decisões mais profundas que envolvem tanto meu corpo quanto minha mente e porque não, minha alma.

Minha família, amigos, colegas e mesmo a população em geral podem me ajudar a decidir se determinado lugar é seguro ou perigoso; se aquela moda em evidencia na mídia é boa ou ruim; se determinado supermercado tem as melhores ofertas ou mesmo se determinada pessoa na qual convivemos diariamente é sincera ou não.

Mas estas mesmas pessoas não poderiam me ajudar, por exemplo a achar meu ponto de despertar pela manhã. Isto depende só de meus instintos, meu relógio biológico e outros fatores pessoais e intransferíveis que precisei vivenciar para entender e me ajustar.

Elas poderiam me dizer de suas experiencias em acordar cedo, me contar historias próprias de como se sentem com seus horários e a partir daí eu teria mais informações para complementar minha decisão mas não decidiram por mim. Ou não deveriam decidir por mim.

Se é consenso de massa que dormir uma hora a mais pela manhã traz um despertar mais ativo, porque não funcionaria comigo? Se para ser bonito preciso ser magro, porque não me jogar em dietas? Se para ter status eu preciso de um carro da moda, por que não me comprometer com prestações durante 60 meses? Se acordar todos os dias com alguém ao meu lado significa estabilidade e maturidade, porque não aguentar todos os abusos verbais e morais que isto implica?

São essas pequenas coisinhas, respostas simples e aparentemente ideais que muitas vezes nos deixam longe daquilo que deveria ser nosso ponto pacífico.

E quando começamos a olhar as coisas com nossa própria visão, e não a do outro, entendemos que a vida é bem diferente daquilo que projetamos.

Viver é coletivo mas pensar é sempre singular.


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