As vezes eu recebo alguns medos. Que me ferem, me calam, me impelem e repelem. Que me fazem ir longe ou me trazem para perto. Me confundem como se fossem um turbilhão de informações desconexas dançando sobre meus dias. Outras vezes clareiam tão prontamente as idéias como uma tarde clara depois da tempestade.
Confesso que as vezes estes medos me causam raiva pois me fazem ver além dos meus muros divisores. Me fazem perceber que posso errar, omitir, antecipar e até mesmo afugentar. É neste momento que minha humanidade se torna claramente materializada, e qualquer aspecto divino, que por acaso, em algum esquizofrênico recôncavo escondido em mim, quer aparecer, se cala e me faz ser exatamente o que sou.
O mais interessante é que a maioria das vezes este medo se apresenta de forma distinta e clássica, qual um lorde educado em raros colégios europeus, em visita a um primo distante. Refinado e elegante ele chama por mim e eu tenho que atende-lo. E ele me olha com tanto respeito e importância que me liberta uma madura responsabilidade, fazendo com que os assuntos que vamos travar sejam cortesmente resolvidos por dois adultos que sabem todos os pontos do caso em questão.
Então, com toda a diplomacia que me é permitida, sento me junto a ele para um chá e parlamentamos horas a fio até que, no mais nobre gesto de grandeza, ele olha direto em meus olhos e diz: Você tem razão. Preciso me retirar.