Pular para o conteúdo principal

Este dia


Este dia para mim começou a existir lá no final na década de 70. Exatamente este dia, nestas horas.
Eu não nasci neste dia e nem sequer perto destas horas. Mas este dia foi tão presente nos anos da minha vida como é hoje.

Este dia já foi década de 80, 90, 00, século XX, século XI;
Neste dia eu brinquei de bonecas, ganhei brinquedos, fiz amigos, os perdi;
Andei de burca, cantei canções com perfeição e outras de forma totalmente amadora;
Eu representei peças de teatro na escola, na igreja, fui índio, fui fada;
Falei inglês, frances, comi comidas estranhas, gostei e algumas vomitei;
Andei de carro, aprendi a dirigir, bati o carro que peguei escondido;
Fiz prova de vestibular, beijei na boca, fui beijada, comprei roupas e dei presentes;
Cantei em coral, andei por corredores de internato para entrar no quarto das amigas, assisti cultos, fiz bilhetes, andei por campos floridos, olhei pássaros voando;
Mudei de país, de estado, de cidade, de bairro e algumas vezes de planeta;
Brinquei com gatos, cachorros, peixes, pássaros, tartatugas, coelhos e com fogo;
Me queimei no fogão, me afoguei em caiaque, andei na garupa de moto, dirigi moto e cai;
Ouvi musica sertaneja, beatles na estrada, ouvi histórias e conheci pessoas;
Fiquei em bons hoteis, péssimos hotéis e em praça sem ter onde ir;
Contei histórias, mentiras, fiz rimas, enganei, salvei e acalentei;
Senti calor e cai na piscina, me joguei contra as ondas do mar e fiquei com alergia;
Olhei a chuva, senti o vento no meu rosto, liguei para amigos, briguei com inimigos e parentes, percebi que são bem parecidos;
Eu comprei e ganhei. Me matriculei e me cancelei, aprendi e ensinei.

Todos estes dias foram a forja para este de hoje. Exatamente igual: brilhantes, únicos e inesquecivelmente vicerais.
O dia de hoje tem uma iluminação a mais. A iluminação da percepção de que todos passaram e outros iguais...exatamente iguais... virão e serão particurmente distintos, embora os mesmos, e eu serei a mesma...apenas com mais um acréscimo nas longas linhas da minha coleção deles.

Heis ai a fascinante constatação de estar vivo e pertencer...É como um carimbo no espirito com tinta eterna...

Postagens mais visitadas deste blog

O pós do apocalipse

É como se fosse um dia depois, nos escombros. A gente procurando reconstruir aquilo que ainda está de pé e lamentando as ruidas daqueles pilares que não irão mais se erguer. É um misto de morte com um incessante folego de vida, de querer, de ter por conta de...sabe lá oque, emergir da poeira e rastros desse pequeno apocalipse doméstico. Ainda há muito o que vasculhar, recuperar e se despedir. É um dia de trabalho intenso nesses escombros que se apresentam no cenário. E o mais sensato, ainda que automático, pois está desprovido de emoções reais, é levantar e recomeçar no novo mundo. Seja ele como for.
look at there it´s funny!

Solidão

  Heis que faz eco meu coração. A medida que minha idade avança e já não sou mais aquela de 2003, que contava com a sorte, sonhava com o resgate ideal, o destino perfeito, a vida rotineira. Percebo hoje que de tudo que fui e que sou, resta um sopro de autenticidade e solidão. No final da estrada, quer haja bifurcações ou não para chegar no destino, quem vai sou eu. As bagagens que eu, ingenuamente, carregava hora como um troféu, hora como norte, já ficaram para trás a muito tempo e hoje me restam nas mãos as poeiras do caminho, na pele as marcas da jornada e na mente uma juventude renovada de quem vive uma eternidade, ainda que as pedras e obstáculos do percurso atual, façam tudo parecer tão único, urgente e final. Hoje me encontro no derradeiro desfecho desse percurso onde o destino nada mais é do que uma representação da viagem em busca do Graal. Há um corpo cansado, uma mente anuviada pela quantidade de impressões e percepções nas paisagens vistas em contraposição a uma alma que...