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Ontem nem deu pra escrever realmente o que eu queria.
Finalmente, depois de muito relutar, uma luta de quase uns 10 anos eu li o livro de uma amiga minha.
Infelizmente ela morreu, mas foi certa de que contribuiu com sua parcela de experiências nesse mundo podre e fétido.
Eu sempre temi lê-lo pois não conhecia sua historia em sua totalidade, não conhecia sua dificuldade em lidar com o choque das horas contadas e muito menos tinha idéia de que viver pode significar muito, ainda que nunca calculemos o valor exato desse, nada milagroso, fato.
Comecei a ler na sexta feira e isso me fez derramar muitas, incontroladas e desritmadas lagrimas.
Há muito não me sentia tão tocada, essa garota é da minha terra, viveu nos mesmos ambientes que eu, cresceu cercada de pessoas que invariavelmente me cercaram também e tinha o mesmo petulante humor que uns paulistinhas tem, e eu tenho também.
Nossa diferença é a maneira com que lidamos com o mundo. Ela era forte. Delicadíssima mas forte e eu sequer sabia dessa coisa toda. Quando lidamos com preconceito é tudo muito chocante e a reclusão é uma tendência natural do ser humano.
Quando olhei os primeiros capítulos e, dada a forte carga emocional que isso em remeteu, resolvi não ler mais. Fiquei com medo de mim, medo do medo, encontrei os preconceitos que ela falava embora, não tenhamos os mesmos infernos, acredito que o caminho seja o mesmo para todos eles.
É incrível como as coisas acontecem com os menos preparados, como os simples de coração...e como esses simples se mostram grandes e fortes e continuam delicados e doces.
Não podia continuar lendo a destruição e uma amiga de colégio.
Pensei em NY, San Diego...pensei na fuga rara que todo mal incita a mente. Acabei, por mágica calculada do destino conversando com pessoas que me remeteram a essa atmosfera menos provinciana e mais aberta a variedade de situações que as pessoas passam.
Vi-me com medo de ter preconceito. Lembrei dos meus estágios em saúde, das pessoas sem fim que encontrava no caminho com as mais variadas doenças. Algumas externamente visíveis outras fincadas dentro da alma daqueles que sorriam levemente.
Naquele momento, entre novidades tecnológicas e medicinais em paises nem tão distantes, me senti na atmosfera da literatura, tomei coragem e só Alah (clemente e misericordioso) sabe o quanto foi cruel à tentativa de ler e não chorar que me dispus a realizar.
Nem tinha cabeça pra sair, li...chorei e ri, quando a doçura daquela garota se assemelhou a tantas outras garotas, que se enchem de coragem e enfrentam tantas coisas, tantas dores, doenças, traumas...vi como ser mulher é alguma coisa como um cristalzinho frágil pela própria imposição social.
Na realidade é mesmo. É ser cristal. Não falo de mim que sou massa oca, mas dessas grandes mulheres que conheci ainda meninas.
Deu vontade de estar ao lado da minha irmã, da minha avó, por que não da minha mãe.
Seres tão dignos e tão simples...e fora as inúmeras mulheres que já vi tecerem historias lindas de vencer.
Ela viveu bastante, embora seu prazo se extinguisse a cada momento. Teve medo, ignorou o fato, foi ao seu inferno longe de todos os que a amavam (e a família dela foi extremamente zelosa) e lá se encontrou e entendeu e definiu na sua cabeça a palavra preconceito...que na verdade não tem definições. Mas pra ela não existiu. Embora o mundo conspirasse a favor de um isolamento moral e físico...com ela não. E isso é emocionante.
Deram-me forças, para alguma coisa que não sei o que é mas naquele momento, parecia que ela escrevia aquilo porque sabia que um dia precisaria lê-la, entendê-la e chorar definitivamente sua morte.
Toda tristeza faz crescer. Toda dor te abre à mente. Todo sonho vale a pena...ainda que por instantes.

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