neste exato momento, há uma intensa e ruidosa ventania do lado de fora da minha casa, que não me impede de deixar a porta aberta como quem saúda a entrada deste elemento. É um ar quente e morno, quase úmido, que está trazendo um frio intenso e impecável daqui algumas horas.
Gatos aproveitam e tomam sol preguiçosamente na sacada, eu me sinto confortável com a roupa de academia e sem blusas de frio, pois neste momento não há frio. Há vento, calor e promessas. Apenas isso.
Aguardo minhas tele entregas (ou whatsapp entregas?) que chegarão agora pela manhã, com meus produtos veganos e saudáveis e a cesta de dia dos namorados que curiosamente ganhei em um sorteio. Nunca ganho nada em sorteio algum...entendi o presságio e o agouro, é o universo me dizendo que estou no caminho certo de forma enfática e definitiva. Sigo feliz nessa estrada.
Mas todo esse cenário, que faço questão de explicitar, talvez por um egoísmo bobo ou para que você que está lendo neste exato momento se ambientalize e entre junto comigo nessa atmosfera estranha que estamos impostos, como coletivo e também em unidade.
Ja fazem 90 dias em que estou em casa, saindo apenas para fazer coisas que não consigo em delivery 1x por semana e muito rapidamente. Conheço os cantos da minha casa, reinventei meu relacionamento com meus gatos, aprendi o grato oficio de cozinhar comidas veganas e orgânicas, deixo meus cabelos crescerem sem pintura.
...pausa para apartar uma pequena briga de gatos e para comer torrada de pão integral com guacamole...
Me sinto viva. Apreensivamente viva, participante ativa de um ato de vida em coletivo que jamais imaginei que iria participar. Nada e nenhuma vida, cotidiano ou rotina, será igual a 90 dias atrás. O mundo mudou, um vírus que viaja de avião conseguiu desestruturar todas as cadeias sociais que temos no planeta e seguimos improvisando, tentando nos encaixar nessa nova realidade que se projeta gradativamente.
Enquanto eu, habitando este corpo e com essa mente neste contexto histórico, já meditei como se não houvesse amanhã, desalinhei meus chacras, ganhei algumas certificações de cursos que fiz, assisti novela dos anos 90, aprendi que tenho saudades, voltei para a psicologa e para minha personal, cancelei algumas pessoas, reacoplei outras a minha vida... me desorganizei, pedi socorro e volto a me compor como uma pessoa unica, renovada e parte ativa dessa modificação toda que há.
Talvez esses 90 dias de completa reorganização de corpo e mente façam parte da saude para estar presente nesses tempos fantásticos.Me acho mais bonita, mais pura, mais integrada e pronta para algo que ainda não sei o que é. Se uma próxima fase, um novo upgrade, caminho, vida... não sei...
Do fundo do meu coração, gostaria que todos estivessem se reorganizando assim como eu consigo faze-lo, protegida da rua, do vírus e das influencias negativas que permeiam cada canto do lado de fora. Eu fui ali fora, toquei o negativo e senti frio, mas consegui voltar para o quentinho de dentro de mim, que é único e diferente de todas as promessa e orientações que vemos por aí.
Meu desejo nesse corpo e com essa mente é que todas as pessoas possam ter um pouco dessa perspectiva mais pessoal, pois sinto que precisamos nos reformular em unidade, para conseguir dar conta do coletivo e essa reforma é estranha a tudo aquilo que já intentamos utilizar como ferramentas de melhoras pessoais.
Hoje fica claro para mim que o coletivo sadio está intrinsecamente ligado ao individual saudável, pronto, receptivo e lucido. E mais ainda, o caminho para esse individual renovado ranscende o que conhecemos como saídas. Ele também precisa ser revisitado, reparado até sua rota ser alterada de forma inimaginável, fantástica. Como os dias de hoje.
Que todos, direta ou indiretamente, sejamos paz e tenhamos luz.