O ontem passou. Custei a dormir e só tinha poesias na minha cabeça. Tudo estava meio entorpecido e em tons pasteis, mas depois que dormi acordei exatamente na mesma posição e sonhei que havia perdido a carona.
Ontem o dia inteiro foi intenso. Rever a psicóloga e falar com ela das coisas que estão aqui dentro sobre a morte da Boolie, as impressões da falta de vivência do luto da minha família e consequentemente o entendimento do que tudo implicou e implica até hoje nos meus dias é grande e eu não sei lidar.
Contei para ela dos meus planos de auto resgate, minhas aulas de vedanta, kenjutsu e dança; sobre o larp e minhas incursões à culinária e percebi que ela ficou tranquila no que diz respeito a depressão, mas eu sei que tem dois lados e esse excesso de atividades que me propus a fazer também podem ser prejudiciais.
Por conta disso, combinei com ela que as férias acabaram e este mês vamos nos ver toda semana. Não quero sinceramente perder essa lucidez que adquiri e preciso enxergar todas as mortes importantes para mim de forma saudável.
Hoje pela manhã me deu vontade de tomar leite e lembrei da Boolie que amava leite sem lactose e iogurte de cenoura e mel... nem tive coragem de dar para a Vivi que estava na minha cola pedindo qualquer coisa para comer (pq ela é um saquinho sem fundo). Algumas coisas ainda não consigo resignificar.
E percebo que, na mesma proporção de coisas ainda "inresignificáveis" por conta do luto da Boolie, existem coisas exatamente assim em relação ao luto dos meus pais.
Coisas que de ver, a gente se emociona ou evita para não se emocionar como por exemplo, falando em luto de família, minhas avós.
Ultimamente tenho conversado muito com pessoas que tem avós, que vive ou se relaciona muito proximamente com eles e, assim como o leite para a Vivi, eu queria evitar de enxergar que eu tive avós.
Ontem foi inevitável não sentir amor pelas minhas avós que me criaram, quando em uma conversa despretensiosa um colega mencionou o cotidiano dele com os seus.
Não falou nada de mais, porém me aproximou das minhas memórias mais felizes com relação aos meus.
Falamos muito sobre criatividade na terapia e a psi comentou sobre a importância da infância e a liberdade de se expressar para crescer um adulto criativo. Penso nas minhas avós e a contribuição delas nesse processo.
Uma delas enchia minha cabeça de histórias fantásticas, músicas lúdicas e sonhos doces na mesma proporção que reclamava das peraltices.
Lembro claramente os momentos que ela contava as histórias da nossa família, a vinda de Portugal, dos lugares lusitanos que moraram, dos navios, trabalhos, quantos tios avós eu tinha e o que faziam e no meio disto, um recheio maroto de histórias fantásticas e folclóricas de São Paulo.
A minha outra avó não contava histórias mas tinha os cabelos brancos mais macios e fofos que eu já pude tocar e sinceramente eu passava horas penteando, fazendo tranças e tudo o mais que minha imaginação infantil permitisse.
Elas assistiam nossos números de circo, participavam dos nossos programas de rádio, faziam lanche, almoço, janta, sucos, bolos e ajudavam a enterrar tartarugas num velório muito digno.
Impossível não marejar os olhos. Impossível não sentir um amor imenso, insólito e ilimitado por esse clã que pertenci e me moldou.
Com certeza, se hoje sou alguma coisa que valha essas duas mulheres tem muito de culpa nisso. E fico muito feliz de resgatar nesse momento essas lembranças tão doces de forma nítida e vívida.
Hoje, nesse exato momento, um pedaço do passado triste se resignificou em amor e saudade. Eu ainda amo minhas avós. Muito e tanto, pois eu sou a representação delas nesse plano presente. Que o legado que me deram seja bem aproveitado.
Obrigada universo :)
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