Pular para o conteúdo principal
De uns tempos para cá tenho procurado a arte dentro de mim e estou encontrando no oficio que sempre me deu muitos aprendizados na mesma proporção de vitorias pessoais: a musica.

Para começar a contar a historia vou para o final dela: hoje fui fazer teste para um coral local e não passei por motivos obvios como voz destreinada e técnicas esquecidas. Foi muito interessante e rico entrar em um conservatório depois de 6 anos. Aquele ar de antiguidade e sabedoria continua sendo o mesmo e o silencio mais melódico que a tempos eu não ouvia estava lá...sim, ele ainda está lá.

Fazer as vocalizes, embora integralmente eu não tenha curtido como deveria alguem que ve um amigo que a muito não encontrava, foi um momento a parte. Encontrar o meu soprano estridente, perdido, sem foco e ver que as notas baixas ainda continuam sendo misteriosas e imperativas.

Foi interessante também ser testada. Há muito tempo eu não sentia essa sensação de analise de voz, um regente no piano ouvindo minhas notas (muitas erradas) e a sensação de fluir que a musica pode trazer. Lembrando agora uma emoção quase monástica entra dentro de mim tentando me fazer chorar.

A música sou eu. Inteira e lesada; feia e bonita;morta ou viva. A música esteve em mim antes mesmo de eu saber quem eu seria quando ouvia os discos da minha mãe e aprendia as notas musicais de introdução das músicas do rádio. De alguma mágica forma a música permeou minha adolescencia antes mesmo da poesia e assim foi formando meu ser até o dia em que me mudei de cidade.

Talvez este silencio todo que a falta das notas altas e líricas me fechou. De alguma forma muito assusadora hoje pude sentir um pouco mais de mim mesma sendo colocado para fora, libertado...expressado.

Mas ainda que a música tenha feito morada nos meus dias nunca foi fácil chegar perto dela. Eu me lembro bastante da minha primeira tentativa mais "profissional" de cantar. Nada a ver com bares ou shows pois sempre fui dramatica demais para não gostar do lírismo. Mas foi o primeiro e mais doído não que eu recebi quando tentei entrar em um grupo e o regente me disse que não tinha voz boa.

Talvez se eu não tivesse essa resiliencia toda teria desistido na primeira mas a única desistencia que tive foi do grupo e no dia seguinte, para esclarecer se cantava ou não bem, me matriculei pela primeira vez (de muitas) em um conservatório.

Realmente eu não cantava nada...mas depois cantei. Depois a voz se soltou de tal forma que era impossivel não deixar escapar nas notas, pequenas doses de emoção. E como eu fui feliz naqueles dias...

Depois vieram os casamentos, os corais, os corais que viajavam para fora do pais, as aulas para um grupo de meninas e toda extensão do meu amor pela musica se fez ali...naquele cotidiano pequeno e quase escondido da minha vida mas que era suficientemente grande para me completar.

Quando eu achava que nada mais surpreenderia a minha vóz se extendeu para o soprano! Eu me lembro que ficava maravilhada com a possibilidade de alcançar altas notas que até então me pareciam distantes. Quem me ouve falar tem certeza sempre de que sou contralto...e alcançar notas de escala soprano era algo muito parecido com auto superação...a música me queria em todas as extensões...

Depois de mudar de Estado, junto com a correria em busca da própria vida e condição de mantê-la, isto tudo ficou lá dentro, guardado, esquecido mas latente. E como só eu mesma poderia ser, após um  pequeno período de stress acabei me deparando com ela, a musica, sorrindo e me chamando para cantar com ela novamente as valsas alegres e fluidas que tem para me oferecer.

E eu peguei a mão dela e fui parar hoje, dentro de um conservatório onde tudo fez sentido. Não vou deixar de ser arquiteta de informação e não vou deixar de escrever artigos e planejar livros e enfim, nada vai mudar a não ser pelo novo espaço, gasto talvez com inutilidades da TV ou comilanças exageradas, que será destinado a musica.

Hoje foi um dia atípico e impactante...um dia que quebrou um paradigma e me mostrou uma outra face minha que precisa estar de volta para que eu seja completa e fluida. E talvez a minha historia não seja mais imagem e texto...no silêncio...talvez a minha história a partir de agora começe a ter trilha sonora.

Postagens mais visitadas deste blog

O pós do apocalipse

É como se fosse um dia depois, nos escombros. A gente procurando reconstruir aquilo que ainda está de pé e lamentando as ruidas daqueles pilares que não irão mais se erguer. É um misto de morte com um incessante folego de vida, de querer, de ter por conta de...sabe lá oque, emergir da poeira e rastros desse pequeno apocalipse doméstico. Ainda há muito o que vasculhar, recuperar e se despedir. É um dia de trabalho intenso nesses escombros que se apresentam no cenário. E o mais sensato, ainda que automático, pois está desprovido de emoções reais, é levantar e recomeçar no novo mundo. Seja ele como for.
Sim...uma das piores coisas que existem na vida de um ser humano é ficar resfriado...ontem sai do treino numa chuvinha ridiculamente fina mas malvada. E acabei ficando pior do que já estava...aliás...tem coisa pior que nariz entupido? É muito chaaato. Por que ai vira uma bola de neve pois respiro ar frio e a coitada da garganta que já não está lá aquelas coisas fica pior... Ontem ia começar kenjutsu mas num teve...o sempai também tava dodói. Tá vendo porque gripe e resfriado são melecas?! Atrapalham a vida de todo mundo! Agora por exemplo está me atrapalhando a escrever pois tenho que parar de digitar e tossir ou limpar o nariz...uó Falando em nariz na volta do treino encontro em casa minha gata preta básica Boolie Boolie...ruiva!!! Não sei como ela conseguiu chegar até a água oxigenada do armário do banheiro mas sei que ela esta com indiscretas manchas vermelhas no seu pelo...tá muito engraçado...depois mostro foto da pequena maluca. Tinha que limpar a casa mas tô com aquela moleza ch...

Solidão

  Heis que faz eco meu coração. A medida que minha idade avança e já não sou mais aquela de 2003, que contava com a sorte, sonhava com o resgate ideal, o destino perfeito, a vida rotineira. Percebo hoje que de tudo que fui e que sou, resta um sopro de autenticidade e solidão. No final da estrada, quer haja bifurcações ou não para chegar no destino, quem vai sou eu. As bagagens que eu, ingenuamente, carregava hora como um troféu, hora como norte, já ficaram para trás a muito tempo e hoje me restam nas mãos as poeiras do caminho, na pele as marcas da jornada e na mente uma juventude renovada de quem vive uma eternidade, ainda que as pedras e obstáculos do percurso atual, façam tudo parecer tão único, urgente e final. Hoje me encontro no derradeiro desfecho desse percurso onde o destino nada mais é do que uma representação da viagem em busca do Graal. Há um corpo cansado, uma mente anuviada pela quantidade de impressões e percepções nas paisagens vistas em contraposição a uma alma que...